Uma viagem pelos sabores do Norte de Minas - Territórios Gastronômicos

Uma viagem pelos sabores do Norte de Minas

Por Lucas Mourão*

Acabo de voltar de uma viagem mágica ao incrível Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, no norte de Minas, e, inspirado pela experiência vivida no final de semana resolvi escrever um pouco sobre cultura e alimentação que vi e provei nesses dias.

Para quem nasceu e cresceu na capital mineira, o Norte do estado é uma região geralmente desconhecida de suas paisagens, cultura, aromas e sabores. Chegando próximo de Montes Claros já vemos claramente a mudança de paisagem na estrada, que predomina um Cerrado bem selvagem e belo, cada vez mais agreste na medida em que se sobe o caminho para Januária. Vemos também as famosas veredas, repletas de buritis imponentes que compõem o paisagismo natural da região. Ao chegar no Parque Cavernas do Peruaçu, a imagem do todo impressiona pela beleza e grandeza das montanhas e pedras cheias de história para contar. É um parque que existe desde 1999, passou por um tempo fechado, e só no ano passado voltou a abrir para visitação. Reconhecido por sua grande quantidade de cavernas, grutas e pinturas rupestres de estilo único, o Parque Cavernas do Peruaçu é um convite à imaginação de como era a vida de nossos ancestrais e sua cultura.

Parque Nacional Cavernas do Peruaçu – Gruta do Janelão (Foto: Lucas Mourão)

O Parque se encontra em três municípios do norte mineiro: São João das Missões, Itacarambi e Januária, esta última da qual vamos falar nesse texto. A cidade tem raízes antigas, no povoado de Brejo do Amparo, onde inicialmente os bandeirantes se instalaram quando chegaram à região, entrando em conflito com os indígenas caiapós que já habitavam a área. Nesse povoado hoje se encontra o centro histórico da cidade e onde podemos visitar alguns alambiques que representam um pouco da importância da cachaça na economia do município. Nessa viagem visitei a Fazenda Sítio, onde se produz a cachaça Franciscana, com fermento de fubá, e recentemente começaram a produção de cervejas artesanais. Por lá também encontramos garrafadas (feitas com cachaça) de plantas medicinais da região, tais como quina do cerrado, calunga, sassafrás, dentre outras emblemáticas do Cerrado, um trabalho muito bacana de resgate das tradições comandado pela família dona do alambique. Além disso, também produzem rapadura, bem comum na região.

Garrafadas medicinais da Fazenda Sítio, em Brejo do Amparo (Foto: Lucas Mourão)

Saindo do povoado de Brejo do Amparo, fui ao Mercado Central de Januária, um local interessantíssimo no qual podemos encontrar variados ingredientes, medicinas e artesanato icônicos do Norte de Minas, que em alguns casos sequer chegam aos mercados da capital mineira. O ambiente do mercado é bem diferente do Mercado Central de BH: há dois ambientes principais, um voltado para ervas, raízes e alimentos, e o outro mais focado no artesanato e outros produtos. Na parte das ervas é possível encontrar uma ampla gama de plantas medicinais típicas do Cerrado/Caatinga, só para citar algumas: barbatimão, carqueja, amburana (casca e sementes), semente de sucupira, resina de jatobá…

Carqueja e barbatimão (Foto: Lucas Mourão)

Na parte dos alimentos, por sua vez, encontramos ingredientes que mais nos fazem pensar que estamos mais na Bahia do que em Minas Gerais: muita rapadura, muita farinha de mandioca, tamarindos (tanto com casca quanto sem), uma enorme variedade de feijões (em garrafas PET), óleo e castanha de pequi, óleo e castanha de babaçu, doce de buriti, baru, pimenta de macaco, maracujá do mato, pimenta de cheiro e outras pimentas diferentes, só para citar alguns.

Visitar esse mercado é um convite a explorar novos aromas, sabores e texturas, presentes na cultura norte mineira, carregados de histórias e memórias afetivas, que por vezes passa despercebida pelos cidadãos da capital e de outras regiões do Estado. E você, caro leitor, tem alguma lembrança afetiva ou conhece algo da cultura alimentar do Norte de Minas? Compartilhe com a gente nos comentários!

Lucas Mourão 
Educador e paisagista. Formado em Relações Econômicas Internacionais, se encantou com a Agroecologia em 2015, e desde então trabalha com o tema através de cursos, oficinas e consultoria direcionadas ao conhecimento e uso das plantas alimentícias não convencionais (PANC) na alimentação e nos jardins. É diretor e idealizador da Jaca Verde Panc, por meio da qual trabalha a agroecologia e biodiversidade através da educação.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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