A história do feijão tropeiro segundo um poeta mineiro - Territórios Gastronômicos

A história do feijão tropeiro segundo um poeta mineiro

Por Augusto Albertini

O feijão tropeiro é um dos pratos mais tradicionais da gastronomia mineira. A receita utiliza alguns dos ingredientes mais queridinhos pelos mineiros: carne de porco, feijão temperado e a farinha de mandioca, e há quem acrescente outros itens que resultam em uma combinação bastante saborosa.

No entanto, em alguns lugares este prato já foi chamado por outros nomes. De acordo com o poeta e compositor Itamar Aguiar, a receita que hoje é bastante apreciada possui uma origem bem simples e tinha um nome bem diferente – feijão bago bago.

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Descobrimos o Itamar através de nossa amiga e colaboradora Ereni Pimenta, criadora do tradicional Festival Gastronômico Jequisabor realizado anualmente em Capelinha no Vale do Jequitinhonha-MG.

Ereni, que é nascida e criada em Coluna, uma pequena e aprazível cidade do Território Gastronômico do Espinhaço, nos enviou a história contada pelo poeta Itamar Aguiar, seu conterrâneo, e decidimos conhecer um pouco mais sobre este personagem.

Hoje com 90 anos de idade, Itamar mora em São Paulo, mas nasceu no município de Coluna (MG), na região do Vale do Rio Doce. As origens sempre influenciaram no repertório do artista, que acabou ganhando destaque através do conjunto musical Demônios da Garoa. Eles gravaram algumas composições de Itamar, entre elas a canção “Eu sou de lá”, que é uma homenagem à querida terra do autor.

As origens colunenses também estão presentes nos casos contados pelo poeta. De acordo com Itamar, a história do “feijão bago bago” era contada desde o tempo do pai dele, como forma de interagir com os amigos e entreter as crianças. O relato, assim como a receita, é simples e muito gostoso:

A receita

(Itamar Aguiar)

Ali pelo ano de 1928, na Serra do Gavião, estrada tropeira de Coluna a Diamantina, já nas primeiras viagens, com sua tropa de doze burros que chegaram em pouco tempo e com muita luta (ao destino) ao número de 24 burros, um cavalo de madrinha e o cavalo de montaria de meu pai. Conforme suas palavras, (ele estava) cansado de amassar feijão na estrada, pois tinha que tirar o caldeirão da trempe fervendo e colocar no chão para ficar firme e poder machucar o feijão. Era uma trabalheira! Pendurado na trempe, o caldeirão balançava e não amassava direito. Aí (ele) pensou: por que não comer o feijão inteiro, bago a bago? Vou Experimentar!

Deitou o feijão no fogo com água na medida de cozinhar, deixou cozer ao ponto. Em outro caldeirão picou alho e botou sal na medida, botou pedaços de toucinho e fritou com o alho. Enquanto fritava, acrescentou pedaços de carne de porco, e depois de tudo bem frito, o feijão que havia misturado em farinha de mandioca dançava soltinho na panela. Despejou o feijão por cima de tudo, misturou e serviu. Estava bão demais! Estava bão demais!

Aqui foi criado o feijão bago bago, que nas cidades muito depois chamaram de tropeiro. “

Itamar Aguiar é poeta e compositor, nascido em Coluna (MG) (Foto: Reprodução / Facebook)

Augusto Albertini
Jornalista e colaborador do Territórios Gastronômicos

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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Chefs e MestresReceitas

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Ereni Pimenta

Então o Feijão tropeiro foi criado em território de coluna pelo pai do poeta Itamar Aguiar que é de lá e pelo nome Feijão Bago bago em viagem de tropeiros… Sim?!