Gastronomia que muda vidas - A história do Wagner e o seu Sushi Mineiro - Territórios Gastronômicos

Gastronomia que muda vidas – A história do Wagner e o seu Sushi Mineiro

Conheça a trajetória de um mineiro do Vale do Rio Doce que chegou a BH com uma mão na frente e outra atrás, e não perdeu a oportunidade que o destino lhe apresentou.
Se encantou pelo ofício da cozinha oriental e hoje se tornou um sushiman de sucesso.

Conheça a trajetória de um mineiro do Vale do Rio Doce que chegou a BH com uma mão na frente e outra atrás, e não perdeu a oportunidade que o destino lhe apresentou.
Se encantou pelo ofício da cozinha oriental e hoje se tornou um sushiman de sucesso.

Sushi com a cara de Minas Gerais

Por Isabel de Andrade*

Quando chegaram ao Brasil no século XX, os imigrantes japoneses trouxeram consigo hábitos e costumes que passaram a ser incorporados à cultura brasileira. A culinária nipônica garantiu o seu espaço e conquistou paladares. Entre os pratos que fazem sucesso por aqui está o sushi. Cada vez mais popular, ele ganha versões diferentes e por que não incorporar na receita ingredientes tipicamente brasileiros?

Como praticamente 10 em cada 10 mineiros adoram um queijinho, o sushiman Wagner Campos não teve dúvidas. Tratou logo de misturar Minas e Japão. Para finalizar o maki de salmão com cream cheese, ele usa um pedacinho do queijo Minas e dá o acabamento com o maçarico. Já o hot filadélfia, que leva salmão, cream cheese e cebolinha, é finalizado com crispy de couve, um ingrediente muito presente nos pratos mineiros. E o sushi doce criado por Wagner é uma homenagem a uma das sobremesas mais tradicionais do estado, queijo com goiabada. Para preparar o sushi Romeu e Julieta, o sushiman envolve o queijo com a goiabada no arroz, fecha com alga, passa a peça no coco e leva no óleo quente. Se fica gostoso? Sim, com certeza. Wagner diz que é sucesso garantido entre os clientes. “Quem experimenta, nunca reclama”, brinca ele.

Os sushis amineirados se misturam aos tradicionais e têm saída garantida na Panificadora Colombina, que fica no bairro Floresta, na região leste de Belo Horizonte. O preparo começa logo cedo para que tudo seja servido durante o almoço. No início da tarde, é hora de deixar tudo pronto para o jantar. Isso, sem esquecer a montagem das bandejas, que são uma opção para quem prefere levar a refeição para casa.

O consumo dos pratos japoneses no estabelecimento triplicou em pouco mais de um ano. Passou de 50 quilos por mês para 160 quilos, segundo Wagner. Esse aumento ocorreu justamente no período em que ele assumiu a praça de comida japonesa. E o resultado é motivo de orgulho para o jovem, que tem apenas 22 anos. “Aumentou bastante, mas pretendo melhorar muito mais ainda”, promete.

Gastronomia que muda vidas

Quando chegou a Belo Horizonte no início de janeiro de 2018, Wagner mal podia imaginar o quanto a gastronomia transformaria a sua vida. O jovem tinha apenas 20 anos quando saiu do município de Senhora do Porto, no Vale do Rio Doce, e se mudou para a capital mineira. Veio em busca de emprego e conseguiu muito mais do que isso. Encontrou a chance de desenhar um novo futuro a partir da arte de preparar comida japonesa.

Mas, no início, não foi fácil. O jovem começou na padaria como balconista. Ele conta que deixou para trás a companheira e o filho, que tinha nascido há apenas 20 dias. Morava em um imóvel de um cômodo que sequer tinha uma cama. Foram muitas noites dormindo em um colchão no chão.

O rapaz logo ficou fascinado pelo trabalho do sushiman. “Eu ficava parado, encantado, achava tudo muito interessante”, lembra. A vontade de aprender era tanta que ele se armou de coragem e pediu uma chance. Foi atendido. Perseverante, começou a fazer as aulas fora do horário de trabalho e treinava, pelo menos, quatro horas por dia.

“O seu dia de sorte é aquele em que você decide agir”

Wagner aprendeu a lição e, quando a oportunidade chegou, não desperdiçou. O sushiman que cuidava da praça precisou se desligar do trabalho e o jovem recém-chegado a esse mundo novo recebeu o convite para assumir a função. Sete meses depois de chegar a Belo Horizonte, lá estava ele, preparando os sushis.

Um ano e três meses depois, muita coisa mudou. O profissional está craque no preparo das peças e desenvolveu o seu próprio jeito de cozinhar. Segundo ele, isso faz toda a diferença no resultado final. “O sabor, o estilo das peças, a forma como o arroz é cozido fazem com que cada sushiman crie o seu estilo”, explica.

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As dificuldades que se apresentaram no início dessa jornada foram superadas. Wagner encontrou no gerente da panificadora mais do que um chefe, mas praticamente um pai. Com ajuda dele, ele se mudou para uma casa confortável, que já está toda mobiliada, e onde mora com a mulher e o filho. Conta, orgulhoso, que já conseguiu até comprar uma moto. “A gastronomia me deu tudo isso. Eu tinha muita vontade de aprender. Se eu saí do interior, tinha que conseguir algo melhor. E a minha tendência é só melhorar”, diz.

Planos para o futuro não faltam. O sushiman pretende montar o negócio próprio. “Quero ter um restaurante daqui a alguns anos e continuar melhorando para eu conseguir”, vislumbra. E, pelo jeito, vai dar tudo certo porque ele sabe o que precisa fazer para chegar lá. É como diz um provérbio japonês: “O seu dia de sorte é aquele em que você decide agir”. Uma lição que o jovem sushiman já sabe muito bem colocar em prática.

Foto: Isabel de Andrade

*Isabel Andrade é Jornalista e Colaboradora do Territórios Gastronômicos

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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