MG tem a primeira certificação de Queijo Minas Artesanal orgânico - Territórios Gastronômicos

MG tem a primeira certificação de Queijo Minas Artesanal orgânico

Minas tem o seu primeiro queijo artesanal orgânico certificado. O Q-Verte é fabricado na Fazenda das Vertentes. Para conseguir a certificação, as proprietárias investiram em uma série de ações que tornaram todo o processo de produção sustentável.

Minas tem o seu primeiro queijo artesanal orgânico certificado. O Q-Verte é fabricado na Fazenda das Vertentes. Para conseguir a certificação, as proprietárias investiram em uma série de ações que tornaram todo o processo de produção sustentável.

Por Isabel de Andrade*

Minas Gerais acaba de receber a certificação do primeiro queijo minas artesanal feito de leite cru de vaca orgânico do estado. Ele é produzido na Fazenda das Vertentes, que fica no município de Entre Rios de Minas. Mas, você deve estar se perguntando: o que isso significa? Significa que todo o processo de produção dessa iguaria, que tanto representa a identidade gastronômica do mineiro, é feito de forma sustentável. E justamente essas práticas ambientalmente corretas foram observadas pelo Instituto Mineiro de Agropecuária, IMA, para que o queijo Q-Verte recebesse o certificado.

Q-Verte: o primeiro queijo minas artesanal orgânico certificado no estado ( Foto: divulgação)

Antes de compreender mais sobre as práticas adotadas para a produção do queijo feito de leite cru orgânico, é preciso conhecer a história de quem está à frente desse projeto. As irmãs Adriana e Andréa Prado são as responsáveis por essa iniciativa pioneira. Desde crianças, elas sempre foram muito próximas. Não é à toa que se intitulam também gêmeas de alma. Elas são tão parecidas que chegam a ser confundidas. E a semelhança não é somente física. As duas também têm propósitos bem parecidos. A conquista dessa vitória só foi possível porque Adriana e Andréa alimentaram juntas o mesmo sonho.

As irmãs sempre sonharam em ter uma propriedade sustentável para a produção de queijo ( Foto: divulgação)

O que elas queriam era ter uma propriedade agrícola sustentável, onde pudessem comer o que produziam, vender alimentos de qualidade e desenvolver receitas. O queijo é uma grande paixão que reforçava ainda mais essa união. Foi só uma questão de tempo para que as duas fizessem do sonho realidade. A concretização do desejo veio em 2017, quando Adriana e Andréa compraram a propriedade rural na região mineira do Campo das Vertentes.

A produção do queijo minas artesanal teve início só mais tarde, em agosto de 2019. Na época, elas já estavam com o requerimento de certificação prontinho. Foi só encaminhá-lo para o IMA, receber a visita dos técnicos e pronto. Veio a certificação. Na fazenda, são produzidos 200 quilos de queijo por mês. O produto é caracterizado pela cor amarelada, casca lavada e massa uniforme. Para chegar a esse aspecto, o queijo passa por 22 dias de maturação, que é o tempo indicado para a região. Depois, ele é encaminhado para pontos de venda dentro do estado de Minas.

Um longo processo até a certificação

Pode até parecer que o processo foi rápido e fácil, mas é pura impressão. O trabalho para que o queijo orgânico fosse certificado pelo IMA começou assim que a propriedade foi adquirida. Era preciso garantir que todos os critérios associados à sustentabilidade fossem respeitados.

Toda a produção da Fazenda das Vertentes respeita os critérios da sustentabilidade ( Foto: divulgação)

As primeiras medidas foram tomadas para que a fazenda se tornasse ambientalmente correta. Adriana conta que foi feito um trabalho de georreferenciamento para mapear a propriedade e, assim, conseguir ferramentas para a gestão dos recursos naturais.

De posse das informações, as irmãs cercaram as nascentes, o córrego, fizeram mapa de escoamento da água. Também construíram estradas tomando todo o cuidado para evitar a erosão ou qualquer tipo de prejuízo ambiental. Ainda sem luz elétrica, lançaram mão da produção de energia solar. A captação da água é feita por gravidade. Antes da chegada do rebanho, houve a formação de pastagens.

Segundo Adriana, quase 50% da propriedade é uma área de reserva ambiental. Nessa região, está sendo recomposto um corredor ecológico. Com isso, preservam-se a flora e a fauna. O resultado dessa medida é o retorno de animais que haviam desaparecido da mata, que estava degradada. Micos, lobo guará, veados já começaram a voltar para casa porque encontram abrigo, comida e água.

Outra consequência do trabalho de preservação é a redução dos incêndios florestais, muitas vezes provocados pelos próprios produtores com a intenção de “limpar” a área. Para evitar o fogo, as irmãs fizeram aceiros. Assim, o risco de queimadas é praticamente eliminado. “Hoje, a gente consegue ver a recuperação de várias áreas cercadas. Tem muito o que fazer, mas a gente está bem otimista”, comenta Adriana.

Todo esse trabalho de preservação feito na fazenda é apenas parte do processo que garantiu a certificação do primeiro queijo Minas artesanal feito de leite cru orgânico. Adriana explica que a sustentabilidade deve estar presente em três esferas: ambiental, social e produtiva.

ENTENDA

São exemplos de medidas ambientalmente sustentáveis: a propriedade deve respeitar os manejos naturais, uso eficiente da água, conservação do solo para evitar erosão, curvas de nível com barragens para otimizar os recursos hídricos e abastecer o lençol freático, agricultura de baixo carbono, tratamento de dejetos, recuperação de pastagens.

São exemplos de medidas socialmente sustentáveis: relacionamento justo com os funcionários, respeito aos direitos trabalhistas, contrato entre empregador e empregado, condições de trabalho adequadas, estrutura digna para o contratado.

A relação de respeito com os funcionários também faz parte das boas práticas de sustentabilidade (Foto: divulgação)

São exemplos de produção sustentável: alimentação do rebanho deve ser saudável e obedecer às restrições da legislação orgânica. O gado não pode consumir material geneticamente modificado. O milho oferecido aos animais é plantado na fazenda, com semente orgânica e o cultivo é livre de agrotóxicos. A praga é combatida apenas com a capina. O capim é orgânico, ou seja, não tem adubação química. O sal mineral não tem ureia. Na fazenda, foi cultivado um campo de girassóis sob a orientação da Embrapa para garantir uma fonte de proteína para as vacas.

Campo de girassóis orgânicos cultivados para garantir maior fonte de proteínas para os animais (Foto: divulgação)

As doenças são combatidas preventivamente com homeopatia animal. Os animais têm atestado de que são livres de brucelose e tuberculose, doenças que são transmitidas ao homem. Há garantia de rastreabilidade do produto. Os animais têm água de qualidade em abundância. Não se usa hormônio para indução do aleitamento. As vacas são criadas livres, junto de suas crias, podendo expressar seu comportamento animal. Na produção do leite e do queijo, adotam-se as Boas Práticas de Fabricação, com rigoroso controle de qualidade e higiene, usando apenas produtos biodegradáveis, que não contaminam água e solo.

“Você não precisa destruir o ambiente e tratar o animal como máquina para produzir com qualidade”.

Adriana Prado, produtora

Um exemplo a ser seguido

Adriana e Andréa fazem questão de compartilhar toda a tecnologia implantada na fazenda e a logística que rege o trabalho por lá. Por isso, elas têm feito um intenso trabalho de conscientização da comunidade oferecendo cursos de capacitação, dias de campo, eventos, visitas técnicas.

As irmãs escancaram a porteira da propriedade para receber produtores rurais e estudantes universitários interessados em ver de perto o formato de sistema produtivo orgânico. Segundo Adriana, a demanda por conhecimento é grande. ”São sementes que são plantadas e têm o seu tempo de maturação”, diz.

O próximo passo é investir ainda mais no receptivo. A estrutura da queijaria foi planejada para que o visitante possa acompanhar do lado de fora, por um vidro, todo o processo de produção. E elas pretendem fomentar o turismo pedagógico. A ideia, explica Adriana, é receber estudantes universitários e técnicos da área de ciências agrárias, além de alunos do ensino médio e fornecer, inclusive, alojamentos para os grupos de visitantes.

Outro projeto é ampliar a linha de produção da Fazenda das Vertentes. As irmãs pretendem fabricar doces, geleias, embutidos e queijos recheados para degustação.

Adriana e Andréa Prado pretendem fabricar queijos recheados para degustação na fazenda ( Foto: divulgação)

As produtoras contam com dois importantes parceiros e incentivadores. O marido de Andréa, Sérgio Alves Neves, e o companheiro de Adriana, Rogério Ern, também mergulharam nesse sonho. Sérgio, que é empresário do setor de Recursos Humanos, faz curso de gastronomia e de mestre cervejeiro, e já começou a produzir cerveja artesanal. Rogério, que é engenheiro agrônomo, é o responsável técnico pela propriedade e é quem pega no pesado mesmo. Juntos, os dois casais pretendem oferecer aos visitantes a possibilidade de degustar os queijos fazendo harmonizações com cervejas e vinhos.

Todas essas ações são mais alguns projetos que fazem parte desse grande sonho iniciado pelas irmãs. Agora, elas se preparam para garantir a certificação nacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Mapa. Por meio do Selo Arte, o queijo minas artesanal orgânico poderá ser vendido em todo o país. E isso deve acontecer logo, logo. Na Fazenda Vertente, é assim. As ideias são cultivadas em larga escala e a colheita é certa.

Serviço:

Instagram: @queijariaqverte

Site: fazendadasvertentes.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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