Gastronomia com poesia: conheça o mais novo colunista do Territórios

Chegando mais um craque para a equipe do Territórios Gastronômicos. Acompanhe a partir de hoje a coluna Gastronomia com Poesia do Chef Antônio Basile. Confira!

Chegando mais um craque para a equipe do Territórios Gastronômicos. Acompanhe a partir de hoje a coluna Gastronomia com Poesia do Chef Antônio Basile. Confira!

Olá amigo da cozinha!

Hoje apresentamos com grande alegria, mais um parceiro e amigo para abrilhantar esse espaço do Territórios Gastronômicos, dedicado às coisas boas da gastronomia- com o perdão da redundância.

O chef Antônio Basile estreia sua coluna Gastronomia com Poesia, e vai nos contar deliciosas passagens de sua vida profissional ao lado dos fogões, histórias e causos interessantes, tudo isso temperado com a sensibilidade e a poesia que temperam sua cozinha e a sua relação afetiva com a gastronomia, especialmente a mineira.

Chef Antônio Basile e suas criações em Gonçalves-MG Foto: Arquivo Pessoal

O chef escolheu as montanhas de Minas para viver com a família, a esposa Elizabete e os filhos gêmeos, os consagrados cozinheiros e chefs Fernando e Juliano Basile. A bucólica Gonçalves é o paraíso onde os amigos decidiram desenvolver sua criatividade na cozinha, e é de lá, do Território Gastronômico Mantiqueira/Sul Suíça, que a partir de hoje trazemos mais essas receitas de amor à culinária e à gastronomia nas palavras desse grande chef e amigo Antonio Basile.

Engajado na divulgação da cozinha mineira no Brasil e no mundo, já representou o estado em eventos internacionais, sendo um profissional de grande conhecimento técnico e cultural, muito respeitado por seus pares em todo o país.

Seja bem-vindo chef Basile, e bom proveito a você leitor amigo!

A comida está na mesa

Por: Antônio Basile*

A chamada esperada, o grito na porta da cozinha, a mãe com o pano de prato sobre os ombros e um avental roto pelo uso de todo dia. A criançada, já com as pernas empoeiradas das brincadeiras matinais junto aos irmãos de todas as idades, ouve aquela que, sobre o fogão, apurou o almoço começado nas primeiras horas da manhã quente, logo após o café com leite e pão com manteiga. A cozinha sempre foi o centro. Nada de sala, mas a cozinha.

A toalha sobre a mesa é limpa alvejada; pratos são o palco e alguns são lascados pelo uso, mas nunca eram dispensados, afinal ainda serviam para o deleite. O talher para os pequenos era somente um: a colher, e para os já grandinhos, o direito ao garfo; faca nem pensar. Só quem come com gosto sabe e eu sabia, sempre soube e jamais esqueceria os prazeres que inundavam todos os meus sentidos e que orientariam meu caminhar suave por entre panelas e a vida. Chiando alto, a panela trabalhadeira liberava por toda a casa, aos poucos, o aroma do básico feijão de todo dia; o arroz, branquinho que era, recém saído do fogo ia direto para a mesa, na panela mesmo, e quando a mãe levantava a tampa para o servi-lo era o alho e o louro fresco, colhido “a la minuta” que chegava primeiro nas minhas narinas, com frescor. Mas eram as misturas que enlouqueciam a prole, menos para o patriarca que, pela labuta daqueles tempos, tinha seus privilégios à mesa; era o primeiro a se servir de tudo, sempre. Para os pequenos a base estava pronta, sobrepostos um sobre o outro, as vezes lado a lado, a “sustância” dos dois parceiros enamorados, agora, recebem pequenas delicias que compunham a mistura e eram divididas igualmente entre todos. Pequenas frituras, grandes delicias, os bolinhos de sempre, normalmente de verduras, que a mãe dizia que a gente tinha que comer – e nem precisava porque eram deliciosos. Era muita coisa boa sobre a mesa, com fartura sem luxo. Para ganhar aquele segundo naco de frango ensopado preparado na então moderna e recém chegada caçarola de alumínio a mãe cobrava o serviço, ou seja, tinha que dar conta de comer também a salada (alguns pequenos não eram muito fãs), sem deixar restos no prato, o que era proibido. E por falar, o alumínio roubou a cena dominando os armários, expulsando o ferro e o barro, renegando-os a segundo plano, e sobre tal injustiça poderemos falar no futuro.

A vida era assim e muito mais.

Chef Antônio Basile – Gonçalves MG – Foto Arquivo Pessoal

Para falar de gastronomia e culinária, hoje em dia, cobra-se estudo, pesquisa e experiências mil na cozinha profissional. Centenas de pequenos chefes de cozinha saem de universidades todos os anos e vestem a dolmã, algumas estilizadas por verdadeiros designers da moda gastronômica, e olham para o diploma conquistado, realizados. Pois é, leitor, moda gastronômica.

Não falarei sobre modismos. Já os segui e, apesar de hoje me causarem até certa ojeriza, foram úteis para que eu retornasse ao caminho do meio. É preciso conhecer de tudo, mas agora chega deles. Vou falar de comida de verdade, de brasileiros reféns da salsicha e outras porcarias cheirosas, baratas e que desnutrem para sustentar a indústria alimentícia que, no fundo, bem no fundo, não tem nenhum vínculo com a qualidade alimentar das pessoas. Falarei de prazeres à mesa, das idéias novas e das lembranças gastronômicas. Vou falar da terra.

“…o feijão é bom com pão, e o angu é gostoso prá chuchu…”

Receitas? Avalio que o leitor já as tem demais. Proponho-me a expor a compreensão de preparações e suas nuances. Você merece entender o porquê dos procedimentos culinários. Na matemática, a aplicação da fórmula final nos poupa o cálculo complexo, mas nos priva o entendimento do todo, assim é a culinária. Nada de “papagaísmos” e você vai se inspirar a cozinhar por você mesmo e se realizará muito, mas muito mais. Nada pior que cópias que submergem na obscuridade a personalidade do cozinheiro, seja ele quem for, profissional ou não.

Não copie, inove, crie. Deixe a sua marca.

Haverá sempre certa poesia na minha escrita porque o tema merece, afinal, se feijão é bom com pão e angu é gostoso prá chuchu, por que não? Se há emoção e sentimento no ato de cozinhar e servir, há de se poetizar. É a vida desse meu lugar, poetizou Milton Nascimento.

Viva a mesa mineira!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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Tais Perbellini

Antônio Basile é TOP! Entende muito do assunto…muitas delícias na mesa!