Mapa dos Territórios Gastronômicos de Minas Gerais

Saiba como foi desenvolvido o estudo do mapeamento dos Territórios Gastronômicos de Minas Gerais a partir do conceito das Identidades Gastronômicas regionais, suas particularidades naturais, históricas e culturais, com potenciais para promover o turismo interno. Esse estudo também se propõe a estabelecer conteúdos para nortear políticas públicas de desenvolvimento econômico e social das comunidades produtoras, em todas as etapas da cadeia produtiva de alimentos.

Saiba como foi desenvolvido o estudo do mapeamento dos Territórios Gastronômicos de Minas Gerais a partir do conceito das Identidades Gastronômicas regionais, suas particularidades naturais, históricas e culturais, com potenciais para promover o turismo interno. Esse estudo também se propõe a estabelecer conteúdos para nortear políticas públicas de desenvolvimento econômico e social das comunidades produtoras, em todas as etapas da cadeia produtiva de alimentos.

Territórios Gastronômicos…

...a consolidação da gastronomia como receita para o desenvolvimento sustentável.

Por: Eduardo Avelar

Os “terroirs” como são conhecidos na gastronomia francesa determinam as características de alimentos a partir das particularidades de cada região, relativas a solo, clima, relevo e outras influências naturais, que interferem na produção local, perpassando pelos aspectos humanos, históricos e culturais daqueles que viveram ou passaram por ali deixando suas marcas na formação dos costumes alimentares das comunidades.

Nessas intermináveis viagens do projeto Sabores de Minas para a produção dos guias, que se transformaram posteriormente em revistas, cadernos de gastronomia, colunas, programas de rádio e TV, percorremos centenas de milhares de km, em mais de 1200 localidades no estado até o ano de 2011 e realizamos, paralelamente à produção editorial, uma pesquisa mais aprofundada, que culminou neste novo desenho proposto das regiões em Minas Gerais, traçado sob a ótica da gastronomia, observadas e catalogadas outras sutis características complementares àquelas determinadas pelos “terroirs” .

Inicialmente foram levantadas as receitas de pratos, quitandas, doces e outros produtos transformados, de produtos naturais, de outras informações sobre cada cidade, distrito ou povoado, e de seus personagens, dos seus costumes e tradições à mesa e de outras características culinárias.

Ao longo das viagens que avançaram para outras centenas de comunidades a partir de 2011, percebemos a dimensão que poderíamos ter com esses garimpos, e estudando um pouco mais sobre a evolução histórica das principais regiões turísticas gastronômicas do planeta* e suas potencialidades para atrair os visitantes para o consequente desenvolvimento regional, o que nos despertou a necessidade de aferir mais informações que extrapolassem as cozinhas e carimbasse com uma marca de referencia essas regiões em Minas.

Aprimorando as observações e inserindo critérios mais detalhados de costumes e tradições, nos preparos e nos métodos de trabalho nas diferentes produções locais, em cada etapa da cadeia produtiva, surge, então, o Projeto Territórios Gastronômicos, uma continuidade do Sabores de Minas, mas com novos ingredientes norteando a avaliação das pesquisas.

Essas análises das particularidades e tradições em cada etapa da cadeia produtiva regional, do cultivo ou extração, da transformação artesanal, da comercialização, distribuição e consumo foram anexadas na complementação das avaliações.

* Provence: Quando se fala de culinária Mediterrânea ou Provençal, apesar de se destacarem produtos com IGs ou Denominações de Origem como azeites, vinhos e outros, a “denominação” “Provence” representa uma grande referência no turismo gastronômico mundial.

Assim também ocorre com a Toscana na Itália, que não se resume aos famosos vinhos, mas a vários outros produtos, receitas e atrativos gastronômicos.

Outro exemplo é o Chile, cuja proposta de marcas coletivas já está desenvolvendo selos de origem com o carimbo do país em todas as regiões, mas com cores e referências diferentes para regiões como a Patagônia, o Atacama e outras.

DEFININDO-SE AS IDENTIDADES GASTRONÔMICAS REGIONAIS

A interseção desses 3 aspectos observados, a partir de um Inventário de produtos e outras características locais em cada município ou comunidade, nos conduziu a uma metodologia de avaliação, com margem razoável de acerto, gerando, tal convergência, indicadores comparativos entre as localidades, através das suas características de DNA (Identidades Gastronômicas Regionais-IDGs), que nos orientaram para sugerir as divisões macro (Territórios) e Micro Regionais (sub Territórios).

IDGs (IDENTIDADES GASTRONÔMICAS REGIONAIS)–Um olhar 360 graus

Sintetizando, muito se tem falado sobre as IGs ou Indicações Geográficas (Indicação de Procedência e Denominação de Origem)* de produtos e serviços em todo o planeta, atribuindo-se-lhes características específicas, relacionadas ao DNA absorvido de cada uma das regiões ou dos “terroirs”, onde foram produzidos.

Tratam-se, de classificações que comprovadamente agregam valor e notoriedade àqueles produtos que se diferenciam em qualidade e singularidade.

Somando-se aos aspectos físicos e culturais, as Identidades Gastronômicas Regionais acrescentam a esse padrão produto/”terroir”o conceito Território Gastronômico, através de cuja abrangência se pretende demonstrar que onde se produz alimentos ou utensílios, também praticam-se costumes, cultuam-se tradições, além das diversas outras características que complementam a pluralidade cultural gastronômica para desenvolvimento de marcas conceituais regionais, para agregação de valor e consequente aumento da atratividade dessa região.

As IDGs ou Identidades Gastronômicas Regionais, portanto, priorizam as regiões e os seus protagonistas, as pessoas e as comunidades onde se produz um ou mais produtos, primários ou transformados, endêmicos ou exóticos, antigos ou contemporâneos, receitas diversas que incorporam influências históricas, antropológicas, a partir das origens e migrações, dos diferentes modos de fazer, dos costumes e das diversas tradições, tudo isso incorporado ao longo das etapas da cadeia de valor, do cultivo ou extrativismo ao consumo.

Importante, nesse momento, o registro incontroverso de que, para nós, a mesa adquire significado que ultrapassa o sentido estrito da palavra, assim como a culinária e os seus valores ultrapassam os limites das cozinhas, e acredito, firmemente que a história que permeia a gastronomia mineira nos move para além do sintetismo das Indicações Geográficas. Esse culto à mesa mineira, nos autoriza a propor as IDGs ou Identidades Gastronômicas Regionais como base conceitual desse estudo, cujo significado apresenta uma referência complementar e, reiterando, mais abrangente, ultrapassando sensivelmente a visão produto/”terroir”.

A criação das IDGs também se justifica pelas dimensões de nosso estado, como uma possibilidade de descentralização da gestão cultural, turística, social e econômica da gastronomia, com um olhar autônomo diante de seu peculiar potencial e valor. Com a divisão em Territórios e Sub-Territórios, serão facilitadas as ações coletivas entre municípios e comunidades com similaridades, objetivando o aprimoramento e a promoção dos produtos, produtores, estabelecimentos e serviços afins, a partir de marcas coletivas regionais, gerando renda e incentivando o turismo gastronômico regional do estado, cuja fama histórica já o coloca como grande referência gastronômica para o país e para o mundo, gerando como consequência desta gestão regionalizada, mas ao mesmo tempo integrada, inegável desenvolvimento de toda ordem.

*Segundo o SEBRAE – O termo “indicação geográfica” foi se firmando quando produtores, comerciantes e consumidores começaram a identificar que alguns produtos de determinados lugares apresentavam qualidades particulares, atribuíveis à sua origem geográfica, e começaram a denominá-los com o nome geográfico que indicava sua procedência. Os produtos que apresentam uma qualidade única, explorando as características naturais, tais como geográficas (solo, vegetação), meteorológicas (clima) e humanas (cultivo, tratamento, manufatura), e que indicam de onde são provenientes são bens que possuem um certificado de qualidade atestando sua origem e garantindo o controle rígido de sua qualidade. Modalidades: Indicação de procedência: nome geográfico (país, cidade, região ou localidade) reconhecido pela produção, fabricação ou extração de determinado produto ou serviço.Denominação de origem: nome geográfico que identifica produto ou serviço dotado de características devidas, exclusivamente, ao meio geográfico (fatores naturais e humanos).

Os 5 Territórios a partir das suas Identidades Gastronômicas Regionais – IDGs

Definidos os 5 grandes Territórios Gastronômicos partimos para a consolidação dos Sub Territórios e suas IDGs para pautar projetos de Marcas Regionais e Projetos de Desenvolvimento Econômico e Social para as comunidades envolvidas.

Mapeando os Sub-Terriórios, suas IDGs e apontando para as Marcas Regionais

Os Territórios Gastronômicos foram definidos neste trabalho por sua extensão e identidade a partir das similaridades dos costumes culinários praticados nas regiões e pela presença e utilização dos principais ingredientes, utensílios e outras particularidades culturais e naturais de cada município ou povoado visitado por mim e minha equipe durante os últimos 20 anos de viagens e experimentações.

Cada município ou comunidade visitados, foram avaliados em suas principais características gastronômicas e colocadas em análises comparativas com seus vizinhos.

E assim sucessivamente, utilizando os limites geopolíticos dos municípios como referências, foram propostas as micro regiões ou Sub-Territórios e os 5 grandes Territórios Gastronômicos de Minas Gerais. Vale ressaltar que não foram obedecidas necessariamente as divisões macro e microrregionais estabelecidas pelos órgãos oficiais de governo nem os Circuitos Turísticos do Estado por seus olhares mais genéricos para a gastronomia.

Outra observação importante se faz necessária. Apesar de algumas teorias renegarem as regionalidades gastronômicas e as suas “fronteiras”, defendemos as suas demarcações determinadas pelas IDGs. Torna-se fundamental esclarecer que, a proposta dos Territórios Gastronômicos utiliza-se de critérios de observação e experimentação presenciais, e mesmo assim, o projeto dessas subdivisões se propõe, em uma próxima etapa, realizar revisões a partir de um aprofundamento científico e acadêmico.

Dentro deste espectro, podemos considerar as IDGs como oportunidades determinantes para criação e promoção das marcas regionais coletivas, reforçando a exequibilidade para uma estratégia de marketing gastronômico para Minas que, a nosso ver já ostenta uma posição de referência do segmento no país.

Considerações Finais…

Sintetizando, amigas e amigos da cozinha, o Projeto dos Territórios se propõe a criar alternativas a partir de uma regionalização coerente, com a divisão dos Territórios e Sub-Territórios determinados por características gastronômicas definidas e similares.

Podemos sim, por que não, justificados em várias iniciativas históricas e criativas dos ideais mineiros durante nossos 300 anos, criarmos algo diferente, legitimado em proposições responsáveis e em consonância com as nossas particularidades, sem a necessidade de se seguir padrões ou regras aplicadas em outras regiões, que não sejam tão eficazes para nossas realidades.

Com esta iniciativa, acredito que podemos criar melhores condições logísticas e estratégicas, para trabalharmos e gerirmos o desenvolvimento coletivo de produtos e serviços, estimulando o turismo regional, a exemplo de algumas regiões semelhantes pelo mundo que exaltam as diversidades locais como atrativos.

A partir de gestões compartilhadas entre municípios vizinhos consorciados, associações, entidades, comercio e serviços, juntamente com os produtores e os personagens representativos que preservam e promovem as características históricas e tradições culinárias regionais, Minas poderá dar um grande salto para sua consolidação como destino gastronômico do planeta.

Finalizando amigas e amigos, reitero a necessidade de reconhecermos e praticarmos, com a autonomia necessária, a gestão da gastronomia como ferramenta e pauta de política pública para o desenvolvimento do nosso estado.

Saudações Gastronômicas!

*Eduardo Avelar: chef de cozinha, consultor e pesquisador

Esse texto aborda partes de textos e estudos publicados no livro Cozinha Mineira…dos Quintais aos Territórios Gastronômicos – Eduardo Avelar – Editora Letramento

@editoraletramento –

https://www.editoraletramento.com.br/

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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