No primeiro dia do ano, o Territórios Gastronômicos vai compartilhar a história inspiradora da dona Miriam. Ela faz a alegria das crianças com um carrinho de pipoca na pracinha do centro de Oliveira, na região centro-oeste de Minas. Miriam cresceu em um orfanato e, com muita sabedoria, soube driblar as dificuldades que encontrou pela frente e construiu um novo destino.
Por Isabel de Andrade*
Bem na pracinha que fica no centro de Oliveira, cidade a 160 quilômetros de Belo Horizonte, está o carrinho de pipoca todo decorado com super-heróis e personagens que fazem parte do universo infantil. As pipocas salgada e doce não são o único atrativo. Tem também a pururuca e o algodão doce. Quem comanda o carrinho é a Miriam Valentim dos Santos Sobrinho, que é aposentada e encontrou na atividade uma complementação de renda.
Essa história começou há cerca de 18 anos. Miriam já trabalhava em eventos e festas servindo cachorro quente e churrasquinho. Foi quando decidiu mudar o foco do negócio e se dedicar ao público infantil. O primeiro passo foi construir o carrinho. Tarefa que ela dividiu com o marido, que trabalha com sucatas e não teve dificuldade nenhuma para executar o projeto.
A partir de então, o carrinho da Miriam passou a ser presença obrigatória na pracinha, em festas e eventos. E ela costuma rodar por toda a região. Se tem uma festa na roça, lá vai ela. Se a festa é na Igreja, também leva o carrinho. “A gente tá sempre andando”, conta.
E se engana quem pensa que a clientela é formada só pelas crianças. Segundo Miriam, os adultos também não resistem ao sabor da infância e adoram um algodão doce. E quanto mais colorido, melhor. “Nós achávamos que iríamos mexer só com criança e o adulto adora também”, diz. É que tem sempre uma criança que dentro da gente, não é verdade?
A criança que mora dentro da Miriam não teve uma infância fácil. Ela nasceu em Divinópolis, na região centro-oeste de Minas. Foi entregue pela mãe a um orfanato aos quatro anos de idade. “Eu lembro quando a minha mãe me deixou lá. Eu chorei uma semana”, conta.
Aos nove anos, Miriam foi adotada e se mudou para Belo Horizonte. Mas, diz que na casa onde passou a viver não era considerada uma filha e não teve as mesmas oportunidades que as outras crianças da família como, por exemplo, acesso aos estudos. Mas, conta que aprendeu muitas coisas no novo lar. “Aprendi a matar um frango, a cuidar de uma cozinha, a falar sempre a verdade”, diz.
Aos 14 anos, Miriam descobriu que as pessoas que faziam serviço doméstico eram pagas pelo trabalho. E ela nunca havia recebido um centavo. Foi assim que ela começou a ter o desejo de sair dali. Chegou até a planejar uma fuga. A mãe adotiva descobriu o plano e a levou de volta ao Lar das Meninas, em Divinópolis. Mas, Miriam já tinha ultrapassado a idade para viver no orfanato. Então, foi levada para a casa da mãe.
O reencontro e a convivência com a mãe não foram fáceis. Ela tinha uma vida muito simples. No novo lar, Miriam teve o primeiro contato com o fogão a lenha e pote de barro para armazenar água. Nesse período, ela conheceu os irmãos e descobriu as suas origens.
O primeiro emprego foi em uma padaria recém-inaugurada em Divinópolis. Certo dia, ela foi com a patroa passear na cidade vizinha, Oliveira. “Eu lembro que olhei essa pracinha cheia de gente e pensei: que cidadezinha bonitinha. Mal sabia eu que aqui seria meu destino. Foi onde eu me casei e construí a minha família”, se recorda. A pracinha que encantou a Miriam é a mesma onde ela trabalha hoje e faz a alegria da criançada com o carrinho de pipoca.
No período de férias ou recesso escolar, Miriam ganha importantes reforços. Ela conta com a companhia dos três netos, Diego, de 15 anos, Lucas, de 12, e Vitória, de 10. As crianças, que são criadas pela avó, adoram fazer parte do time. Desde cedo, aprendem que as conquistas dependem de esforço.
Diego, o mais velho dos irmãos, está no nono ano. Ele conta que aprendeu muito com a avó. Receber o pagamento pela pipoca e dar o troco ao cliente ajudaram, inclusive, a reforçar os estudos de tabuada. Os irmãos são craques na soma, subtração, multiplicação e divisão.
Diego tem sonhos e planeja trabalhar futuramente com o avô. Ele quer ajudar no negócio de sucatas, fazer o empreendimento crescer. Lucas ainda não sabe o que vai ser quando crescer, mas a avó conta, orgulhosa, que o menino tem muito talento para desenhar. E, assim, a família segue, desenhando um futuro cheio de carinho e união em meio às pipocas, pururucas e o algodão doce.
Serviço
Carrinho de pipoca para aluguel em festas
(37) 99835-4389
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Esta senhora deve ter conhecido minha mãe (Maria das Graças), ficou neste mesmo internato na mesma época e passou pelo mesmo problema.