Vem aí o Projeto Biomas - Territórios Gastronômicos

Vem aí o Projeto Biomas

Uma série de receitas que valorizam os biomas brasileiros. Essa é a novidade que você vai acompanhar nos Territórios Gastronômicos.

Uma série de receitas que valorizam os biomas brasileiros. Essa é a novidade que você vai acompanhar nos Territórios Gastronômicos.

Por Isabel de Andrade*

Pensando em valorizar o território brasileiro, a professora de Gastronomia Rosilene Campolina em parceria com Territórios Gastronômicos, lança o projeto Biomas. Você vai conhecer as riquezas presentes em cada um dos seis biomas do nosso país e, claro, vai aprender também deliciosas receitas desenvolvidas pelos alunos do curso de Gastronomia da UNA. Acompanhe essa saborosa aventura, cuja ideia surgiu depois de uma palestra/aula por videoconferência da Unidade Curricular Cozinha Brasileira, Sustentabilidade e Segurança Alimentar, ministrada pelos professores Renato Lins Pires e Rosilene Campolina. Confira os detalhes sobre a discussão no artigo a seguir.

O antídoto contra a ignorância continua sendo o conhecimento

*Por Wessery Zago, jornalista gastronômico, técnico dos Laboratórios da Gastronomia do Centro Universitário UNA e cozinheiro.

Os famosos versos do poeta e ambientalista Nicolas Behr, que já se tornaram um clássico da cultura alternativa brasiliense, manifestam com humor e ironia um protesto contra o desprezo de que tem sido objeto o segundo bioma mais importante, em termos de extensão, na composição do território brasileiro. Um desprezo ignorante, fruto de uma impressão superficial e enganosa sobre a “pobreza” do Cerrado em contraste com a grandeza da Floresta Tropical.

Em tempos do jornalismo político, há alguns anos, durante um debate sobre o futuro da Amazônia no Congresso Nacional, ouvi de um funcionário de carreira do Ministério de Agricultura, responsável pela coordenação de importantes programas de desenvolvimento agrícola, uma afirmação que me chocou por ser absurda e, ao mesmo tempo, absolutamente “realista” (do ponto de vista do senso comum medíocre que domina o debate sobre o planejamento territorial no Brasil).

Segundo aquele funcionário, o mundo havia convencido o Brasil da importância de preservar a Floresta Amazônica. Mas não havia motivo para o agronegócio preocupar-se com isso, já que existiam de imediato 50 milhões de hectares prontos para serem desmatados e convertidos para agricultura no Cerrado. Uma das causas desse tipo de mentalidade, talvez a mais essencial, é a névoa de obscuridade com que o Brasil Central continua sendo percebido por grande parte da opinião pública.

Os 200 milhões de hectares do Cerrado são vistos como um vazio cultural e ecológico. Um território privado de grandeza histórica própria, que apenas pode ser valorizado através da chegada de uma fronteira externa de civilização e progresso.

A própria semântica latina de Sertão, que domina a visão do Cerrado desde os primórdios da nossa formação histórica, origina-se na ideia de desert(ã)o, de lugar marginal onde se escondem os desertores (desertum), de espaço de pouca utilidade por ser embrulhado e trançado (sertanum).

O esforço de superação dessa imagem preconceituosa passa por uma tarefa intelectual que ainda está longe de ter sido realizada. É preciso produzir um conhecimento vivo e renovado sobre o Cerrado enquanto tal, que revele a sua importância intrínseca em termos ecológicos, culturais e históricos. Apesar dos pesares, o melhor antídoto contra a ignorância continua sendo o conhecimento. A construção de uma nova imagem do Cerrado, que supere condicionamentos seculares, requer um esforço conjunto de ciência, educação e debate político.

Um passo importante nessa direção foi dado no último dia 08, durante uma palestra/aula por videoconferência da Unidade Curricular Cozinha Brasileira, Sustentabilidade e Segurança Alimentar, ministrada pela professora Rose Campolina e com participações especiais da “cientista do cerrado” e extrativista, pioneira no lançamento do Pequi desidratado, Vicentina Bispo, e a curadora e pesquisadora dos assuntos gastronômicos do Norte de Minas Gerais, Bernadete Guimarães.

Ouvir a Tina falar sobre seu caso de amor com o Cerrado, mostrando algumas riquezas desse sertão, como o pequi, o caju e o maracujazinho do cerrado, tendo, ainda, como cenário, uma palmeira de Buriti, veio-me à mente uma imagem. Essa imagem do (de)sertão depende do ponto de vista, daquilo que se quer ou não se quer ver. Um olhar externo e preconceituoso pode fazer com que as populações do sertão, humanas ou não, se tornem invisíveis. Para um olhar mais íntimo e profundo, que avalia cada bioma e região cultural a partir de sua realidade intrínseca, o Cerrado é cheio de história e natureza.

Das Rotas Gastronômicas, Bernadete Guimarães, demostra absurda coerência sobre a importância da necessidade e do reconhecimento dessas rotas e defende sua implementação governamental.

Tanto Tina quanto Bernadete enfatizaram o discurso sobre a expansão da agricultura que vem colaborando, consideravelmente, para ocupação de áreas cada vez maiores e, assim, contribuindo para o extermínio de habitat, principalmente, de seres vivos. Tina, inteligentemente, sugere que ao levar os frutos, que se deixem as cascas e as sementes para que, assim, uma nova germinação aconteça.

Vejo com fundamental importância suscitar novas discussões e debates em sala de aula ou em outros espaços dentro do ambiente escolar como, por exemplo, o Laboratório de Campo in Loco.

Ao promover um primeiro debate em sala de aula, a professora Rose Campolina conseguiu despertar na classe, principalmente, em caráter interdisciplinar, total interesse e envolvimento pelo tema. Enfim, existe uma série de fatos, situações, casos, materiais, histórias, entre muitas outras coisas, que podem se relacionar interdisciplinarmente com o assunto Cerrado.

Nesse sentido, as informações levantadas ao longo da palestra/aula buscaram aproximar o aluno da realidade em que vive, fazendo com que pudesse visualizar, refletir e compreender os temas apresentados em sala de aula por meio de exemplos vivos de campo ou de espécie.

Os dados apresentados devem ser trabalhados a partir de uma didática motivadora, fazendo com que, por meio da visualização, investigação e problematização do fenômeno apontado, o aluno possa construir o seu conceito elaborando hipóteses e tornando-se, assim, um agente construtor do conhecimento.

Além disso, a formulação desses conceitos por parte do próprio educando pode servir de ponto de partida para discussões interessantes e aprofundadas, comparando seus conceitos a outros já existentes.

Finalizando, em citação, de acordo com Dewey (1938), “os alunos aprendem fazendo”. Essa educação se dá através da experiência. Se uma experiência for desarticulada, desprovida de atenção e reflexão, essa atitude irá operar modificando a qualidade das experiências subsequentes, não permitindo aos alunos retirar delas o que deveriam. Uma boa experiência, mais que imediatamente agradável, promove o desencadeamento de experiências futuras positivas. Nesse sentido, o material elaborado busca aproximar o educando dos temas apresentados em sala de aula, através do entendimento e reflexão sobre os temas abordados e uma boa experiência reflexiva sobre seus conteúdos.

Uma metodologia diferenciada no ensino de botânica, segundo Pinheiro da Silva (2008), pode fomentar uma atitude reflexiva por parte do aluno, na medida em que oferece a este, oportunidades de participação, nas quais vivencie uma variedade de experiências, seja solicitado a tomar decisões, fazer julgamentos e chegar a conclusões.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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Chefs e Mestres
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