Projeto Lendas: O melhor doce do mundo - Territórios Gastronômicos

Projeto Lendas: O melhor doce do mundo

Acompanhe mais uma simples e deliciosa receita do Projeto Lendas, uma gostosa iniciativa da Faculdade de Gastronomia Univeritas, que conta histórias e lembranças dos sabores afetivos de famílias. Hoje a receita é do doce de leite da gastróloga Izabel Nogueira, que trouxe muito mais do que a receita da tia, mas temperou com emoções divididas com a psicologa e amante das tradições culinárias Goreti Lopes. Confira!

Acompanhe mais uma simples e deliciosa receita do Projeto Lendas, uma gostosa iniciativa da Faculdade de Gastronomia Univeritas, que conta histórias e lembranças dos sabores afetivos de famílias. Hoje a receita é do doce de leite da gastróloga Izabel Nogueira, que trouxe muito mais do que a receita da tia, mas temperou com emoções divididas com a psicologa e amante das tradições culinárias Goreti Lopes. Confira!

O melhor doce do mundo

Por: Izabel Nogueira e Goreti Lopes

Imagem Ilustrativa: Foto (Doces da Roça)

Oh Tia !!!

Qual é a receita daquele seu doce de leite de comer de colher?

Perguntei à minha tia já idosa que mora na roça, naquelas casas com quintal cheio de galinhas e marrecos.

Ela respondeu:

“São sempre 10 litros de leite para 1 quilo de açúcar, nunca se esqueça destas quantidades. Pega o tacho de cobre lá no quartinho e vamos aproveitar o tição que está no fogo. Fala para o João separar o leite da tarde que vamos fazer doce de leite!”

Esta era a receita e as instruções para o melhor doce das gerais. Estava tudo lá, numa simples resposta, que eu me recordo, até da entonação da voz da minha tia.

Hoje percebo a ancestralidade que essa receita carrega e o quanto estamos perdendo, deste sabor tão apurado do doce de leite das roças de Minas Gerais.

Se você não tiver uma vaca no seu quintal é quase impossível obter leite cru, sem ser pasteurizado ou que não tenha sofrido algum processamento industrial.  Em centros urbanos já não se conhece esse sabor. Nas prateleiras dos supermercados encontramos uma  infinidade de doces de leite, leites condensados industrializados, baratos e práticos. Porém, trazem em sua composição muitos conservantes.

Antigamente nas fazendas tínhamos abundância de leite cru e o açúcar cristal comercializado a granel nas mercearias locais. Essa de comprar pacote de açúcar em supermercado é coisa recente.

Para se fazer, o tradicional doce de leite é necessário tempo, paciência e macetes que só os antigos possuem.

No quintal há sempre uma trempe aberta, geralmente improvisada, livre de empecilhos, para que se possa circular ao redor do tacho. Assim o vento passa livremente, ajuda na mexida do leite fervente, no espalhar da fumaça fina que se incorpora ao doce e se mistura ao vapor do leite.

A colher de pau que mexe o doce é comprida e auxilia para que não agarre no fundo do tacho de cobre. Este, para ficar brilhante, é lavado com limão capeta , sal e água.

O ponto mole, cremoso, é para ser comido de colher ou no prato com um pedaço de queijo merendeiro, feito com o leite da ordenha da manhã .

O quanto é sensorial a textura, a cor, a maneira de comer o doce de leite com um taco de queijo…

Existe em nossa cultura a  expressão “ no ponto de bala”, que quer dizer estar pronto para fazer alguma coisa. Essa expressão se origina da técnica antiga de se saber  o ponto do doce. Tirar o ponto de bala, onde é preciso ter uma “baciinha” com água, colocar um pouquinho da mistura, observar a tonalidade da água e a textura do doce. Se a água estiver limpa e o doce virar  uma bolinha, ele pode ser cortado em “tabletinhos” depois de esfriar, em tábua de madeira.

Se você procura esses sabores ancestrais, não  deixe de aceitar um cafezinho na casa de algum mineiro na roça. Vai que você dá sorte de ter doce de leite e queijo em cima do fogão a lenha.

Texto elaborado por Izabel Gonçalves Nogueira e Goreti Lopes

*Izabel Nogueira é gastróloga, mestranda em gestão de recursos hídricos na Agencia Nacional de Águas e colaboradora do Territórios Gastronômicos

Goreti Lopes é psicóloga e amante das trilhas e tradições culinárias de Minas Gerais.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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Luciana Tavares de Paula

Que maravilha!!! Cresci ao lado de um tacho de doce de leite, amo!!!

Izabel Nogueira

Essa história é contagiante e está em todos os lugares de Minas Gerais

Goreti

Resgatar a memória através dos sabores e riquezas da culinária, aquece nossos sentidos e mantém viva a nossa história.
Obrigada Izabel Nogueira, pela confiança em compartilhar comigo as memórias afetivas da nossa mineiridade.