Uma das cozinheiras mais importantes de Minas Gerais, dona Nelsa Trombino partiu aos 84 anos. Fundadora do restaurante Xapuri, em Belo Horizonte, ela ajudou a elevar a gastronomia mineira a um outro patamar.
Por Isabel de Andrade*
No restaurante Xapuri, que fica na região da Pampulha, em Belo Horizonte, o passado se faz presente. Cada cantinho lembra um detalhe da vida da dona Nelsa Trombino, a fundadora do restaurante. Desde os móveis e utensílios até o capim que enfeita o jardim, tudo é um retorno às raízes da cozinheira, considerada uma das referências da culinária mineira.
Todo o mobiliário do restaurante é rústico. As mesas e bancos de madeira lavada são iguais aos móveis que havia no sítio do pai de dona Nelsa. O fogão a lenha é item obrigatório. A rede lembra o tempo em que dava para tirar um chochilo após o almoço. O espaço é uma extensão da casa da cozinheira.
Dona Nelsa se mudou para Belo Horizonte na década de 1970 e fez questão de manter os hábitos do interior. Na Pampulha, se fixou. Ela se tornou uma cozinheira e tanto. Na cozinha, colocou em prática as receitas que aprendeu com a sogra durante o tempo em que morou com ela e o sogro na fazenda no Centro-Oeste de Minas.
Em casa, recebia os amigos. Preparava só comida gostosa. A fama atraiu mais gente. E mesmo ampliando o espaço para receber os clientes, o jeitinho mineiro de preparar as refeições se manteve intacto. Fazia o frango da mesma maneira como cozinhava para 5, 10, 20 pessoas.
E essa maneira especial de preparar a comida e receber os convidados fez do Xapuri uma referência da gastronomia mineira. O restaurante, aberto em 1987, é comandado pelo filho de dona Nelsa, o chef Flávio Trombino. O local é parada obrigatória de turistas e gente famosa que visita a capital mineira.
Um legado e tanto para a gastronomia mineira
O cardápio do Xapuri guarda preciosidades da culinária mineira: costelinha frita, feijão tropeiro, torresmo, quiabo, lombo assado na panela, angu, pastel de angu, linguiça com cebola… Comida servida na panela, bem ambientada no clima do interior de Minas. O cardápio de doces é recheado de opções de compotas de frutas, também como manda a tradição mineira.
Dona Nelsa foi uma das responsáveis por elevar a culinária de Minas Gerais a um patamar de excelência. Lutou pela manutenção do tacho de cobre como utensílio essencial para a cozinha mineira. Aos 84 anos, dona Nelsa partiu, mas deixou um grande legado para o estado.
Reconhecimento
O chef Eduardo Avelar, idealizador e criador dos Territórios Gastronômicos, lembra com carinho que dona Nelsa foi a grande homenageada durante o Madrid Fusión, na Espanha, em 2013. Na ocasião, Minas Gerais foi o tema da maior feira de gastronomia do mundo.
A dona Nelsa foi muito importante para cozinha mineira. No restaurante que ela criou não teve espaço para as regionalidades individualizadas. Ela foi a primeira que abraçou o estado inteiro da forma mais simples e natural possível. Sempre fez os doces no tacho de cobre. Tenho uma gratidão e um carinho muito grande por ela. Quando cheguei da França, com a proposta de fazer as releituras de cozinha mineira, com novas técnicas, ela abraçou a minha causa. E, para mim, foi muito importante. Dona Nelsa é mais uma grande dama da culinária mineira. E apesar de ser paulista, foi a grande cozinheira mineira que não era mineira”.
Chef Eduardo Avelar
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.