Doença Celíaca é coisa séria - Territórios Gastronômicos

Doença Celíaca é coisa séria

Retirar o glúten da dieta alimentar é a única forma de tratar a Doença Celíaca. Quem explica os detalhes é a nutricionista Gláucia Hübner.

Doença Celíaca

Retirar o glúten da dieta alimentar é a única forma de tratar a Doença Celíaca. Quem explica os detalhes é a nutricionista Gláucia Hübner.

Por Gláucia Hübner, nutricionista*

O nome Doença Celíaca pode parecer estranho mas, certamente, todos já ouviram falar em glúten. Certo? A Doença Celíaca é uma desordem autoimune, em que a retirada do glúten da alimentação é a única forma de tratamento. Atinge de 1 a 2% da população mundial, ou seja, em cada 100 pessoas, de 1 a 2 são celíacas. É mais frequente em mulheres do que em homens e pode atingir todas as faixas etárias. Existem pesquisas em andamento no intuito de desenvolver medicamentos, mas, até então, nenhuma foi positivamente conclusiva. Enzimas digestivas para o glúten não são indicadas e nem efetivas nesse caso.

O glúten é uma fração de proteína que está presente no trigo, centeio e cevada. Ele é composto por várias partes, sendo uma delas chamada de gliadina, a qual é indigerível a todos nós.

Doença Celíaca
O glúten está presente principalmente em pães, biscoitos, bolos e outros produtos da panificação (Foto: Pixabay)

Em vez de ser eliminada, a gliadina invade a mucosa do intestino delgado e, no caso das pessoas predispostas geneticamente, o mínimo contato com a substância leva a uma extensa reação inflamatória e imunológica, causando a uma destruição das vilosidades, que são estruturas presentes no intestino para absorver os nutrientes de tudo o que consumimos. Uma vez iniciada a carência de nutrientes para praticamente todas as funções no corpo, a pessoa começa a ter diferentes manifestações clínicas em variados órgãos, evoluindo para um quadro de desnutrição severa. Ao contrário do que se imagina, obesos também podem ser celíacos. Nem sempre, a desnutrição está associada ao aspecto emagrecido.

Apesar do problema começar no intestino, os pacientes não apresentam somente sintomas digestivos. Em média, 70 a 80% dos celíacos apresentam manifestações extra-intestinais. Anemia crônica, osteoporose, infertilidade, câncer de intestino, disfunções da tireoide, alterações no esmalte dentário, problemas neurológicos, dentre vários outros, podem estar relacionados à doença celíaca.

Sensibilidade ao Glúten Não Celíaca

Existe também a Sensibilidade ao Glúten Não Celíaca. Ela acomete pelo menos 6% da população e gera muitos sintomas, por vezes, ainda mais do que nos celíacos. Ela não é considerada uma doença autoimune, apesar de algumas pessoas terem alteração na produção dos anticorpos antigliadina no sangue. É preciso fazer o rastreamento da doença celíaca também nesses pacientes, embora o diagnóstico seja feito com base na análise dos sinais e sintomas, uma vez que os exames de rastreamento, nesses casos, se mostraram negativos, mesmo na presença dos sintomas.

O tratamento é o mesmo. Não existem certezas de que uma sensibilidade ao glúten não celíaca não venha se tornar uma Doença Celíaca e, por isso, o acompanhamento especializado com check up periódico é de suma importância.

Exames e acompanhamento

Devido ao modismo que assola do mercado há algum tempo quanto à retirada do glúten para dietas de emagrecimento, a grande preocupação dos profissionais que estão preparados para lidar adequadamente com esses pacientes é exatamente a falta do diagnóstico correto e a desinformação. Quando a pessoa faz a retirada do glúten sem que seja feita a correta investigação da doença, ela corre o risco de não ter o diagnóstico fechado mesmo tendo a doença e evoluir com um mal estar crônico, seguido de várias outras doenças, inclusive outras autoimunes.

Aquelas pessoas que fizeram a retirada e tiveram melhora de sintomas têm mais um motivo para que sejam feitos os exames necessários. Importante saber que, para que seja feito esse rastreamento, o paciente precisa estar consumindo o glúten regularmente a fim de não mascarar os resultados e correr o risco de um falso negativo. O exame que, de fato, fecha o diagnóstico é a endoscopia, com uma amostra cuja quantidade de fragmentos seja maior do que os que são retirados na endoscopia convencional, para biópsia. Esses fragmentos devem ser retirados na segunda e terceira porções do duodeno.

O exame genético pode predispor o aparecimento da doença, mas não fecha diagnóstico. Esse tem sido um erro corriqueiro dentre profissionais que desconhecem a doença. Embora não seja uma doença recente, infelizmente ainda existe muito desconhecimento por parte dos profissionais de saúde sobre ela. São exatamente esses profissionais que incentivam a retirada do glúten de forma banalizada, sem que sejam feitos os exames prévios e que acabam comprometendo a saúde dos pacientes. Uma vez diagnosticado, o paciente deverá manter uma alimentação isenta de glúten e de contaminação cruzada. É importante que familiares, amigos, colegas de trabalho e/ou de escola saibam como evitar que o celíaco se contamine, para ajudá-lo nesse processo. Saiba mais sobre a contaminação cruzada neste vídeo:

Faça boas escolhas

Nos últimos anos a diversidade de produtos sem glúten tem sido crescente, o que tem facilitado muito para quem realmente necessita dessa restrição. Porém, é preciso ficar atento a alguns detalhes: uma vez que o intestino se encontra extremamente debilitado, para que o mesmo se recupere, é preciso que a qualidade da alimentação seja boa. Produtos industrializados repletos de corantes, açúcares ou adoçantes de baixa qualidade, gorduras saturadas, conservantes dos mais variados não devem ser a primeira via de escolha. Nem todo industrializado é ruim, porém é preciso fazer boas escolhas. O nutricionista tem papel super importante nessa orientação.

Em muitos casos, se faz necessária uma suplementação individualizada, para acelerar a recuperação tanto das vilosidades quanto do estado nutricional. Não basta retirar o glúten e continuar consumindo produtos que não ajudam na recuperação. Vale a pena tomar cuidado com fornecedores de alimentos sem glúten, mas que não asseguram a isenção da contaminação cruzada. Questionar sobre isso antes de adquirir qualquer produto é necessário.

pão sem glúten
Há muitas receitas deliciosas que não levam glúten e podem ser preparadas em casa (Foto: Pixabay)

A comida de verdade é o que, de fato, importa na recuperação das vilosidades, para que a absorção dos nutrientes se restabeleça, o que deve ser priorizado sempre! Existe uma atuante rede de apoio nas associações de celíacos espalhadas pelo país. Em Minas Gerais, esses pacientes podem contar com a ACELBRA-MG, que desempenha um importante papel na difusão das informações e que tem promovido eventos para integração e troca de informações entre celíacos e seus familiares.

Serviço:

Instagram: @glauciahubner
Site: nutricaoesaude.com.br
YouTube: Nutricionista Gláucia Hübner Gonçalves

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

All Comments

Subscribe
Notify of
guest
1 Comentário
Oldest
Newest Most Voted
Inline Feedbacks
View all comments
Ângela Diniz

Parabéns, dra. Gláucia, excelente texto. Obrigada pelo apoio.