Ivo Faria diz que gastronomia em BH enfrenta grande crise - Territórios Gastronômicos

Ivo Faria diz que gastronomia em BH enfrenta grande crise

Chef comemora premiação, revela projetos futuros e cobra esforços da prefeitura para incentivar a gastronomia.

*Por Augusto Albertini

Na última semana, o Chef Ivo Faria foi o grande destaque da gastronomia mineira no prêmio Melhores do Ano – Prazeres da Mesa 2019, em São Paulo: conquistou o troféu na categoria “Personalidade da Gastronomia”. Ivo comanda o restaurante Vecchio Sogno, em Belo Horizonte, e desde 1995 a casa faz sucesso utilizando a gastronomia italiana como conceito.

Veja Também: Ivo Faria vence prêmio de Personalidade da Gastronomia

O Chef falou ao Territórios Gastronômicos com exclusividade. Manifestou sua visão sobre a recente conquista, mas declarou descontentamento com o atual momento da gastronomia de Belo Horizonte que, de acordo com ele, teria muito mais a oferecer ao seu público. Entre comemorações e assuntos sérios, revelou projetos futuros e o que os clientes podem esperar do seu trabalho.

Qual é a importância que você dá ao prêmio que conquistou?

Eu acho que toda premiação é bem-vinda, não importa qual, mas tem algumas premiações que são muito importantes. Ser premiado em São Paulo, onde está acontecendo um evento com todas as grandes personalidades da gastronomia do Brasil, e receber um título como a personalidade da gastronomia nacional de 2019, isso é muito importante, porque é um premio que eu vou receber uma vez só. Ser escolhido para receber esse prêmio é uma honra muito grande, me senti muito honrado, me senti privilegiado, porque há tantas pessoas boas no Brasil… Mas muitas vezes chega a hora de a gente ser valorizado também. Fiquei feliz, não só pelo o que aconteceu, mas de ver outras pessoas ficando felizes por mim também. Todos os prêmios são bem-vindos, mas alguns são mais especiais, e receber um prêmio como este é algo muito, muito especial.

Você é uma pessoa que sempre destacou a importância da renovação. Recentemente, o Vecchio Sogno passou por uma reforma, você considera esta mudança como algo importante para a sua premiação?

A premiação não quer dizer uma mudança no restaurante no momento. Acho que receber uma premiação dessas é uma questão de trajetória, é um trabalho desenvolvido ao longo de vários e vários anos que é reconhecido. Então, eu dou o crédito a isto: é um trabalho constante que iniciou há muitos anos e, ao invés de me acomodar, eu sempre o renovei, sempre estive na ativa, mostrando coisas novas, sempre participando de quase tudo o que acontece. Essa premiação é um reconhecimento por um trabalho prestado.

Você está gostando do atual momento da gastronomia de Belo Horizonte?

A gastronomia de Belo Horizonte vive uma das piores crises de todos os tempos: uma cidade que deixou de existir, que não tem inovação, não tem nada de novo… Uma cidade que perdeu tudo e não criou nada.

Como você acha que isso pode ser mudado?

A salvação seria um centro de convenção. Existe um projeto para ser construído perto da Usiminas, mas a prefeitura não aprova. Em vez de ajudar, eles atrapalham. Isso é uma das principais coisas que poderiam mudar um pouco a característica de Belo Horizonte.

De acordo com Ivo, esses problemas se iniciaram em 2008, quando o ex-prefeito Márcio Lacerda assumiu o poder. No entanto, a mudança de gestão em 2014, que resultou na eleição do atual prefeito Alexandre Kalil, não solucionou essas questões.

A que você atribui essa crise?

Começou na época do Márcio Lacerda e no governo do Kalil é a mesma coisa. Não há nenhum interesse em melhorar um pouco esse cenário que nós vivemos em Belo Horizonte: sem circulação de empresários, os hotéis com ocupações baixíssimas, todos os grandes escritórios e empresas saíram de Belo Horizonte. O que vivíamos no passado, nas décadas de 1980 e 1990, com uma cidade repleta empresários, hoje não existe mais. Tanto é que você vê pouquíssimos restaurantes abertos para almoço à la carte, o resto é somente comida a quilo. Isso quer dizer que uma pobreza baixou sobre Belo Horizonte.

BH está concorrendo ao título de Cidade Criativa da Gastronomia da UNESCO. Você acha que isso poderia melhorar este cenário?

O que ajudaria a gastronomia de Belo Horizonte é o movimento e, para trazer movimento, precisamos atrair pessoas. Então não tem jeito, o que precisamos é criar alternativas para trazer gente para Minas Gerais. Só dar um título? Isso é muito bom, mas não é o suficiente. […] Eu acho o seguinte: para valorizar e fazer crescer a economia em cima da gastronomia, é preciso ter circulação de clientes na cidade, e cliente vem com o quê? Vem com congresso, vem com feira, vem com os negócios… Só que com os negócios nós não podemos contar muito hoje. Negócios estão baseados onde? Nas cidades industriais em torno de Belo Horizonte, que no passado dependiam de BH, mas hoje nenhuma delas precisam mais de Belo Horizonte por causa da saída do aeroporto, dos empresários, dos grandes escritórios e grandes empresas. Acho meio difícil esse título ser a salvação da lavoura, mas é muito bem-vindo, eu apoio e aprovo, mas não é a nossa solução, a nossa solução é que volte a ter público circulando.

A saída do aeroporto à qual Ivo se refere é a transferência do tráfego aéreo do Aeroporto da Pampulha para o Aeroporto de Confins, que ocorreu em 2005. Com a mudança, 90% dos voos realizados em Belo Horizonte começaram a ser feitos fora do município.

E quanto ao seu futuro profissional, o que os clientes podem esperar do seu trabalho nos próximos meses? Há alguma novidade?

As coisas não mudam… O que os clientes podem esperar nos próximos meses é a inauguração do Seu Faria, que deve ocorrer nos próximos trinta dias. Seu Faria é um empório, bar e growleria. Vai ser inaugurado entre o La Palma e o Soul Jazz Burguer.

O restaurante e pizzaria La Palma possui um anexo onde funciona o Soul Jazz Burguer. Localizados na região turística da Pampulha, em Belo Horizonte, os dois estabelecimentos possuem a assinatura de Ivo. Aos clientes restam aguardar mais esta novidade.

(Foto: Reprodução / Vecchio Sogno)

*Augusto Albertini
Jornalista e colaborador do Territórios Gastronômicos

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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Wagner

A maioria dos restaurantes de BH são caros, comida fria, e serviço péssimo.